Ciência e Religião: Modelos de interação
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Ciência e Religião: Modelos de interação
Introdução
A Bíblia diz: “Deus colocou a eternidade no coração do homem” (Ec 3.11). Estatísticas recentes mostram que o Brasil continua sendo um país muito religioso -- apenas 7,35% se declara sem religião (isto não quer dizer que não creiam em alguma coisa, apenas que não se identificam com as religiões oficiais). Destes, a predominância é absoluta do Catolicismo (74%) e Protestantismo (16,2%) – ou seja, do Cristianismo em geral. Um dos impactos destes números para a academia é este: a grande maioria de professores e alunos são religiosos. Num ambiente onde predomina o espírito científico, como é a academia, como se desenvolve a relação entre ciência e o Cristianismo?
Maneiras de ver a relação entre ciência e Cristianismo
1. Conflito
O primeiro modelo é o do conflito. Este modelo, chamado de cientificismo, diz que a ciência moderna destruiu as reivindicações da teologia tradicional. Os pensadores cristãos antigos, muito frequentemente, invocavam a Deus como resposta para aquilo que a filosofia natural e a ciência não podiam ainda explicar, como Newton, que atribuiu a Deus as irregularidades nas órbitas dos planetas que não se encaixavam na sua teoria astronômica. O conflito ocorre, portanto, quando a ciência descobre uma explicação para aquilo que era antes atribuído a uma ação direta de Deus. Fica parecendo que a responsabilidade de Deus como governador do mundo fica diminuída mais e mais à medida que a ciência passa a explicar o sobrenatural e o misterioso.
Contudo, esta visão de Deus não é aquela do Cristianismo reformado. O Deus da Bíblia não é um deus ex machina a ser invocado quando alguém precisa de uma explicação para o incompreensível, mas Ele é a causa de todas as coisas. Tudo no mundo depende de Deus, regularidade e irregularidade.
O conflito entre ciência e Cristianismo pode também provocar uma reação do lado de cristãos, que tomam uma atitude anti-intelectual. Aqui a ciência é vista como uma alternativa inferior, incompatível com o Cristianismo, pois rejeita as ações de Deus e as considera como irrelevantes.
2. Adaptação
Num outro modelo, o da adaptação, o Cristianismo tradicional é redefinido para se encaixar melhor nas mudanças no conhecimento científico. Neste modelo, a Bíblia é vista como uma coleção antiga de mitos e estórias piedosas que refletem a fé de Israel e dos cristãos primitivos. Um exemplo são as idéias de Teilhard de Chardin, teólogo católico. O problema com esta abordagem é que parte aprioristicamente da tese que a razão determina a realidade. Assim sendo, os elementos transcendentes do Cristianismo são reduzidos, logo de partida, a mitos e lendas piedosos, visto que não se encaixam na visão de mundo adotada pelo racionalismo.
3. A “Nova Síntese”
Este modelo defende uma transformação radical tanto da ciência quanto da teologia, possibilitando uma síntese entre ambos. Ele tem sido defendido por grupos ligados à religiões orientais, a Nova Era, Shirley McLaine e outros grupos minoritários. Esta combinação de pseudo-ciência duvidosa e de uma heterodoxia pseudo-teológica é um modelo inadequado para quem deseja levar tanto a ciência quanto o Cristianismo a sério.
4. Compartimentalismo
Este modelo entende que ciência e Cristianismo estão tratando de dois campos completamente distintos. Eles nos dão diferentes informações sobre coisas diferentes e não há campo comum entre eles. A ciência não tem absolutamente nada a dizer ao Cristianismo e o reverso também é verdade. E já que não têm nada em comum, um conflito entre eles é totalmente impossível. Esta perspectiva se inspira no dualismo kantiano que jogou a fé para o andar de cima, para longe do alcance da análise racional. Ele é insatisfatório, pois pensadores cristãos não gostam da idéia de que aquilo que crêem é simplesmente um salto no escuro, ou que se refere a uma realidade distinta da nossa.
5. Complementarismo
“Ciência e Teologia nos dizem coisas diferentes acerca da mesma coisa. Cada uma delas, quando coerente com suas próprias e autênticas capacidades, provêm perspectivas válidas sobre a natureza da realidade de pontos-de-vista diferentes. É tarefa dos indivíduos e das comunidades integrar estas duas percepções para obter uma visão coerente e adequada da realidade”.
O modelo complementarista entende que as diferentes percepções da ciência e do Cristianismo aplicam-se ao mesmo mundo e frequentemente aos mesmos eventos. A Natureza é vista como a revelação geral de Deus e a Bíblia como a revelação especial. A realidade é composta de níveis diferentes, cada um deles requerendo um modo diferente de explicação. Estas descrições diferentes se complementam e proporcionam uma percepção mais profunda do mundo.
A propriedade e relevância de cada uma destas percepções dependerá da pergunta feita, do contexto e da necessidade. Assim, uma resposta, numa certa altura, poderá ser mais apropriada que a outra.
Eu gostaria de sugerir que diante dos seguintes fatores, um modelo complementarista é o mais adequado e correto para nós, como Universidade confessional:
1. Pelas estatísticas, que mostram que não podemos deixar a questão da religião e da fé – e especialmente do Cristianismo – do lado de fora da academia.
2. Pela confessionalidade que professamos institucionalmente. Somos nós, mais que outros setores da academia, que podemos entender de forma adequada a relação entre ciência e Cristianismo.
3. Pela relação histórica entre Cristianismo e ciência moderna. Em homilias anteriores tenho mencionado como o Cristianismo contribuiu para o surgimento da ciência.
4. Pelo fato que nenhuma abordagem isolada pode responder de forma completa às questões que os seres humanos geralmente fazem.
Augustus Nicodemus Lopes
Chanceler
A Bíblia diz: “Deus colocou a eternidade no coração do homem” (Ec 3.11). Estatísticas recentes mostram que o Brasil continua sendo um país muito religioso -- apenas 7,35% se declara sem religião (isto não quer dizer que não creiam em alguma coisa, apenas que não se identificam com as religiões oficiais). Destes, a predominância é absoluta do Catolicismo (74%) e Protestantismo (16,2%) – ou seja, do Cristianismo em geral. Um dos impactos destes números para a academia é este: a grande maioria de professores e alunos são religiosos. Num ambiente onde predomina o espírito científico, como é a academia, como se desenvolve a relação entre ciência e o Cristianismo?
Maneiras de ver a relação entre ciência e Cristianismo
1. Conflito
O primeiro modelo é o do conflito. Este modelo, chamado de cientificismo, diz que a ciência moderna destruiu as reivindicações da teologia tradicional. Os pensadores cristãos antigos, muito frequentemente, invocavam a Deus como resposta para aquilo que a filosofia natural e a ciência não podiam ainda explicar, como Newton, que atribuiu a Deus as irregularidades nas órbitas dos planetas que não se encaixavam na sua teoria astronômica. O conflito ocorre, portanto, quando a ciência descobre uma explicação para aquilo que era antes atribuído a uma ação direta de Deus. Fica parecendo que a responsabilidade de Deus como governador do mundo fica diminuída mais e mais à medida que a ciência passa a explicar o sobrenatural e o misterioso.
Contudo, esta visão de Deus não é aquela do Cristianismo reformado. O Deus da Bíblia não é um deus ex machina a ser invocado quando alguém precisa de uma explicação para o incompreensível, mas Ele é a causa de todas as coisas. Tudo no mundo depende de Deus, regularidade e irregularidade.
O conflito entre ciência e Cristianismo pode também provocar uma reação do lado de cristãos, que tomam uma atitude anti-intelectual. Aqui a ciência é vista como uma alternativa inferior, incompatível com o Cristianismo, pois rejeita as ações de Deus e as considera como irrelevantes.
2. Adaptação
Num outro modelo, o da adaptação, o Cristianismo tradicional é redefinido para se encaixar melhor nas mudanças no conhecimento científico. Neste modelo, a Bíblia é vista como uma coleção antiga de mitos e estórias piedosas que refletem a fé de Israel e dos cristãos primitivos. Um exemplo são as idéias de Teilhard de Chardin, teólogo católico. O problema com esta abordagem é que parte aprioristicamente da tese que a razão determina a realidade. Assim sendo, os elementos transcendentes do Cristianismo são reduzidos, logo de partida, a mitos e lendas piedosos, visto que não se encaixam na visão de mundo adotada pelo racionalismo.
3. A “Nova Síntese”
Este modelo defende uma transformação radical tanto da ciência quanto da teologia, possibilitando uma síntese entre ambos. Ele tem sido defendido por grupos ligados à religiões orientais, a Nova Era, Shirley McLaine e outros grupos minoritários. Esta combinação de pseudo-ciência duvidosa e de uma heterodoxia pseudo-teológica é um modelo inadequado para quem deseja levar tanto a ciência quanto o Cristianismo a sério.
4. Compartimentalismo
Este modelo entende que ciência e Cristianismo estão tratando de dois campos completamente distintos. Eles nos dão diferentes informações sobre coisas diferentes e não há campo comum entre eles. A ciência não tem absolutamente nada a dizer ao Cristianismo e o reverso também é verdade. E já que não têm nada em comum, um conflito entre eles é totalmente impossível. Esta perspectiva se inspira no dualismo kantiano que jogou a fé para o andar de cima, para longe do alcance da análise racional. Ele é insatisfatório, pois pensadores cristãos não gostam da idéia de que aquilo que crêem é simplesmente um salto no escuro, ou que se refere a uma realidade distinta da nossa.
5. Complementarismo
“Ciência e Teologia nos dizem coisas diferentes acerca da mesma coisa. Cada uma delas, quando coerente com suas próprias e autênticas capacidades, provêm perspectivas válidas sobre a natureza da realidade de pontos-de-vista diferentes. É tarefa dos indivíduos e das comunidades integrar estas duas percepções para obter uma visão coerente e adequada da realidade”.
O modelo complementarista entende que as diferentes percepções da ciência e do Cristianismo aplicam-se ao mesmo mundo e frequentemente aos mesmos eventos. A Natureza é vista como a revelação geral de Deus e a Bíblia como a revelação especial. A realidade é composta de níveis diferentes, cada um deles requerendo um modo diferente de explicação. Estas descrições diferentes se complementam e proporcionam uma percepção mais profunda do mundo.
A propriedade e relevância de cada uma destas percepções dependerá da pergunta feita, do contexto e da necessidade. Assim, uma resposta, numa certa altura, poderá ser mais apropriada que a outra.
Eu gostaria de sugerir que diante dos seguintes fatores, um modelo complementarista é o mais adequado e correto para nós, como Universidade confessional:
1. Pelas estatísticas, que mostram que não podemos deixar a questão da religião e da fé – e especialmente do Cristianismo – do lado de fora da academia.
2. Pela confessionalidade que professamos institucionalmente. Somos nós, mais que outros setores da academia, que podemos entender de forma adequada a relação entre ciência e Cristianismo.
3. Pela relação histórica entre Cristianismo e ciência moderna. Em homilias anteriores tenho mencionado como o Cristianismo contribuiu para o surgimento da ciência.
4. Pelo fato que nenhuma abordagem isolada pode responder de forma completa às questões que os seres humanos geralmente fazem.
Augustus Nicodemus Lopes
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