AMADOS E AMADAS
PARA FALAR DAS COUSAS DO ALTO,
CADASTREM-SE

EZEQUIEL NEVES
ADMN

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AMADOS E AMADAS
PARA FALAR DAS COUSAS DO ALTO,
CADASTREM-SE

EZEQUIEL NEVES
ADMN

 

 

 

 

O EVANGELHO DE TIAGO

(Continuação)

 

 

XIV

 

José encheu-se de temor, retirou-se da presença de Maria e pôs-se a pensar sobre o que faria com ela. Dizia consigo próprio:

 

-         Se escondo seu erro, contrario a lei do Senhor. Se a denuncio ao povo de Israel, temo que o que acontecer a ela se deva a uma intervenção dos anjos e venha a entregar à morte uma inocente. Como deverei proceder, pois? Mandá-la embora às escondidas.


Enquanto isso, caiu a noite. Eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos, dizendo-lhe:

 

-         Não temas por esta donzela, pois o que ela carrega em suas entranhas é fruto do Espírito Santo. Dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, pois que ele há de salvar seu povo dos pecados.

 

Ao despertar, José levantou-se, glorificou a Deus de Israel por haver-lhe concedido tal graça e continuou guardando Maria.

 

XV

 

Por essa ocasião, veio à casa de José um escriba chamado Anás, que lhe disse:

 

-         Por que não compareceste à nossa reunião?

 

Respondeu-lhe José:

 

-         Estava cansado da caminhada e decidi repousar este primeiro dia.

 

Ao voltar-se, Anás deu-se conta da gravidez de Maria.

 

Então, correu ao sacerdote, dizendo-lhe:

 

-         Esse José, por quem respondes, cometeu uma falta grave.

 

-         Que queres dizer com isso? - perguntou o sacerdote. Ao que respondeu Anás:

 

-         Pois violou aquela virgem que recebeu do templo de Deus, com fraude de seu casamento e sem manifestá-lo ao povo de Israel.

 

Disse o sacerdote:

 

-         Estás certo de que foi José que fez tal coisa?

 

Replicou Anás:

 

-         Envia uma comissão e te certificarás de que a donzela está realmente grávida.

 

Saíram os emissário e encontraram-na tal qual havia dito Anás. Por isso levaram-na, juntamente com José, ante o tribunal.

 

O sacerdote iniciou, dizendo:

 

-         Maria, como fizeste tal coisa? Que te levou a vilipendiar tua alma e esquecer-te do Senhor teu Deus? Tu que te criaste no Santo dos Santos, que recebias alimento das mãos de um anjo, que escutaste os hinos e que dançavas na presença de Deus? Como fizeste isso?

 

Ela se pôs a chorar amargamente, dizendo:

 

-         Juro pelo Senhor meu Deus que estou pura em sua presença e que não conheci varão.

 

Então o sacerdote dirigiu-se a José, perguntando-lhe:

 

-         Por que fizeste isso?

 

Replicou José:

 

-         Juro pelo Senhor meu Deus, que me encontro puro com relação a ela.

 

Acrescentou o sacerdote:

 

-         Não jures em falso! Dize a verdade! Usaste fraudulentamente o matrimônio e não o deste a conhecer ao povo de Israel. Não abaixaste tua cabeça sob a mão poderosa de Deus, por quem sua descendência havia sido bendita.

 

José guardou silêncio.

 

XVI

 

-         Devolve, pois - continuou o sacerdote, - a virgem que recebeste do templo do Senhor.

 

José ficou com os olhos marejados em lágrimas. Acrescentou ainda o sacerdote:

 

-         Farei com que bebais da água da prova do Senhor e ela vos mostrará, diante de vossos próprios olhos, vossos pecados.

 

Tomando da água, fez José bebê-la, enviando-o em seguida à montanha, de onde voltou são e salvo. Fez o mesmo com Maria, enviando-a também à montanha, mas ela voltou sã e salva.

 

Toda a cidade encheu-se de admiração ao ver que não havia pecado neles.

 

Disse o sacerdote:

 

-         Posto que o Senhor não declarou vosso pecado, tampouco irei condenar-vos.

 

Então despediu-os. Tomando Maria, José voltou para casa cheio de alegria e louvado ao Deus de Israel.

 

XVII

 

Veio uma ordem do imperador Augusto para que se fizesse o censo de todos os habitantes de Belém da Judéia.

 

Disse José:

 

-         A meus filhos posso recensear, mas que farei desta donzela? Como vou incluí-la no censo? Como minha esposa? Envergonhou-me. Como minha filha? Mas já sabem todos os filhos de Israel que não é! Este é o dia do Senhor, que se faça a sua vontade.

 

Selando sua asna, fez com que Maria se acomodasse sobre ela. Enquanto um de seus filhos ia à frente, puxando o animal pelo cabresto, José os acompanhava. Quando estavam a três milhas de distância de Belém, José virou-se para Maria e viu que ela estava triste.

 

Disse consigo mesmo:

 

-         Deve ser a gravidez que lhe causa incômodo.

 

Ao voltar-se novamente, encontrou-a sorrindo e indagou-lhe:

 

-         Maria, que acontece, pois que algumas vezes te vejo sorridente e outras triste?

 

Ela lhe disse:

 

-         É que se apresentam dois povos diante de meus olhos: um que chora e se aflige e outro que se alegra e se regozija.

 

Ao chegar à metade do caminho, disse Maria a José:

 

-         Desça-me, porque o fruto de minhas entranhas luta por vir à luz.

 

Ele a ajudou a apear da asna, dizendo-lhe:

 

-         Aonde poderia eu levar-te para resguardar teu pudor, já que estamos em campo aberto?

 

XVIII

 

Encontrando uma caverna, levou-a para dentro e, havendo deixado seus filhos com ela, foi buscar uma parteira na região de Belém.

 

Eis que José encontrou-se andando, mas não podia avançar. Ao levantar seus olhos para o espaço, pareceu lhe ver como se o ar estivesse estremecido de assombro. Quando fixou vista no firmamento, encontrou-o estático e os pássaros do céu, imóveis. Ao dirigir seu olhar à terra, viu um recipiente no solo e uns trabalhadores sentados em atitude de comer, com suas mãos na vasilha. Os que pareciam comer, na realidade não mastigavam, e os que estavam em atitude de pegar a comida, tampouco a tiravam do prato. Finalmente, os que pareciam levar os manjares à boca, não o faziam, ao contrário, tinham seus rostos voltados para cima.

 

Também havia umas ovelhas que estavam sendo tangidas, mas não davam um passo. Estavam paradas. O pastor levantou sua destra para bater-lhes com um cajado, mas parou sua mão no ar.

 

Ao dirigir seu olhar à corrente do rio, viu como uns cabritinhos punham nela seus focinhos, mas não bebiam. Em uma palavra, todas as coisas estavam afastadas, por uns instantes, de seu curso normal.

 

XIX

 

Então uma mulher que descia da montanha disse-lhe:

 

-         Aonde vais?

 

Ao que ele respondeu:

 

-         Ando procurando uma parteira hebréia.

 

Ela replicou:

 

-         Mas és de Israel?

 

Ele respondeu:

 

-         Sim.

 

-         E quem é a que está dando à luz na caverna?

 

-         É minha esposa.

 

-         Então, não é tua mulher?

 

 

Ele respondeu:

 

-         É Maria, a que se criou no templo do Senhor, e ainda que me tivesse sido dada por mulher, não o é, pois que concebeu por virtude do Espírito Santo.

 

Insistiu a parteira:

 

-         Isso é verdade?

 

José respondeu:

 

-         Vem e verás.

 

Então a parteira se pôs a caminho junto com ele. Ao chegar à gruta, pararam, e eis que esta estava sombreada por uma nuvem luminosa.

 

Exclamou a parteira:

 

-         Minha alma foi engrandecida, porque meus olhos viram coisas incríveis, pois que nasceu a salvação para Israel. De repente, a nuvem começou a sair da gruta e dentro brilhou uma luz tão grande que seus olhos não podiam resistir. Esta, por um momento, começou a diminuir tanto que deu para ver o menino que estava tomando o peito da mãe, Maria. A parteira então deu um grito, dizendo:

 

-         Grande é para mim o dia de hoje, já que pude ver com meus próprios olhos um novo milagre.

 

Ao sair a parteira da gruta, veio ao seu encontro Salomé.

 

-         Salomé, Salomé! - exclamou. - Tenho de te contar uma maravilha nunca vista. Uma virgem deu à luz; coisa que, como sabes, não permite a natureza humana.

 

Salomé replicou:

 

-         Pelo Senhor, meus Deus, não acreditarei em tal coisa, se não me for dado tocar com os dedos e examinar sua natureza.

 

XX

 

Havendo entrado a parteira, disse a Maria:

 

-         Prepara-te, porque há entre nós uma grande querela em relação a ti.

 

Salomé, pois, introduziu seu dedo em sua natureza, mas, de repente, deu um grito, dizendo:

 

-         Ai de mim! Minha maldade e minha incredulidade é que têm a culpa! Por descrer do Deus vivo, desprende-se de meu corpo minha mão carbonizada.

 

Dobrou os joelhos diante do Senhor, dizendo:

 

-         Ó Deus de nossos pais! Lembra-te de mim, porque sou descendente de Abraão, Isaac e Jacó! Não faças de mim um exemplo para os filhos de Israel! Devolve-me curada, porém, aos pobres, pois que tu sabes, Senhor, que em teu nome exercia minhas curas, recebendo de ti meu salário!

 

Apareceu um anjo do céu, dizendo-lhe:

 

-         Salomé, Salomé, Deus escutou-te. Aproxima tua mão do menino, toma-o e haverá para ti alegria e prazer.

 

Acercou-se Salomé e o tomou, dizendo:

 

-         Adorar-te-ei, porque nasceste para ser o grande Rei de Israel.

 

De repente, sentiu-se curada e saiu em paz da gruta. Nisso ouviu uma voz que dizia:

 

-         Salomé, Salomé, não contes as maravilhas que viste até estar o menino em Jerusalém.

 

XXI

 

José dispôs-se a partir para Judéia. Por essa ocasião, sobreveio um grande tumulto em Belém, pois vieram um magos dizendo:

 

-         Aonde está o recém-nascido Rei dos Judeus, pois vimos sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo?

 

Herodes, ao ouvir isso, perturbou-se. Enviou seus emissários aos magos e convocou os príncipes e os sacerdotes, fazendo-lhes esta pergunta:

 

-         Que está escrito em relação ao Messias? Aonde ele vai nascer?

 

Eles responderam:

 

-         Em Belém da Judéia, segundo rezam as escrituras. Com isso, despachou-os e interrogou os magos com estas palavras:

 

-         Qual é o sinal que vistes em relação ao nascimento desse rei?

 

Responderam-lhes os magos:

 

-         Vimos um astro muito grande, que brilhava entre as demais estrelas e as eclipsava, fazendo-as desaparecer. Nisso soubemos que a Israel havia nascido um rei e viemos com a intenção de adorá-lo.

 

Replicou Herodes:

 

-         Ide e buscai-o, para que também possa eu ir adorá-lo!

 

Naquele instante, a estrela que haviam visto no Oriente voltou novamente a guiá-los, até que chegaram à caverna e pousou sobre a entrada dela. Vieram, então, os magos a ter com o Menino e Sua mãe, Maria, e tiraram oferendas de seus cofres: ouro, incenso e mirra.

 

Depois, avisados por um anjo para que não entrassem na Judéia, voltaram a suas terras por outro caminho.

 

XXII

 

Ao dar-se conta Herodes de que havia sido enganado, encolerizou-se e enviou seus sicários, dando-lhes a missão de assassinar todos os meninos de menos de dois anos.

 

Quando chegou até Maria a notícia da matança das crianças, encheu-se de temor e, envolvendo seu filho em fraldas, colocou-o numa manjedoura.

 

Quando Isabel inteirou-se de que também buscavam a seu filho João, pegou-o e levou-o a uma montanha. Pôs-se a ver onde haveria de escondê-lo, mas não havia um lugar bom para isso. Entre soluços, exclamou em voz alta:

 

-         Ó Montanha de Deus, recebe em teu seio a mãe com seu filho, pois que não posso subir mais alto.

 

Nesse instante, abriu a montanha suas entranhas para recebê-los. Acompanhou-os uma grande luz, pois estava com ele um anjo de Deus para guardá-los.

 

XXIII

 

Herodes prosseguia na busca de João e enviou seus emissários a Zacarias para que lhe dissessem:

 

-         Aonde escondeste teu filho?

 

Ele respondeu desta maneira:

 

-         Eu me ocupo do serviço de Deus e me encontro sempre no templo. Não sei onde está meu filho.

 

Os emissários informaram a Herodes tudo o que se passara e ele encolerizou-se muito, dizendo consigo mesmo:

 

-         Deve ser seu filho que vai reinar em Israel.

 

Enviou, então, um outro recado, dizendo-lhe:

 

-         Diga-nos a verdade sobre onde está teu filho, porque do contrário bem sabes que teu sangue está sob minhas mãos.

 

Zacarias respondeu:

 

-         Serei mártir do Senhor, se te atreveres a derramar meu sangue, porque minha alma será recolhida pelo Senhor, ao ser segada uma vida inocente no vestíbulo do santuário.

 

Ao romper da aurora, foi assassinado Zacarias, sem que os filhos de Israel se dessem conta desse crime.

 

XXIV

 

Os sacerdotes se reuniram à hora da saudação, mas Zacarias não saiu a seu encontro, como de costume, para abençoá-los. Puseram-se a esperá-lo para saudá-lo na oração e para glorificar o Altíssimo.

 

Ante sua demora, começaram a ter medo. Tomando ânimo, um deles entrou, viu ao lado do altar sangue coagulado e ouviu uma voz que dizia:

 

-         Zacarias foi morto e não se limpará o seu sangue até que chegue o vingador.

 

Ao ouvir a voz, encheu-se de temor e saiu para informar os sacerdotes que, tomando coragem, entraram e testemunharam o ocorrido. Então, os frisos do templo rangeram e eles rasgaram suas vestes de alto a baixo.

 

Não encontraram o corpo, somente a poça de sangue coagulado. Cheios de temor, saíram para informar a todo o povo que Zacarias havia sido assassinado. A notícia correu em todas as tribos de Israel, que o choraram e guardaram luto por três dias e três noites.

 

Concluído esse tempo, reuniram-se os sacerdotes para deliberar sobre quem iriam pôr em seu lugar. Recaiu a sorte sobre Simeão, pois, pelo Espírito Santo, havia sido assegurado de que não veria a morte até que lhe fosse dado contemplar o Messias Encarnado.

 

XXV

 

Eu, Tiago, escrevi esta história. Ao levantar-se um grande tumulto em Jerusalém, por ocasião da morte de Herodes, retirei-me ao deserto até que cessasse o motim, glorificando ao Senhor meu Deus, que me concedeu a graça e a sabedoria necessárias para compor esta narração.

 

Que a graça esteja com todos aqueles que temem a Nosso Senhor Jesus Cristo, para quem deve ser a glória.