AMADOS E AMADAS
PARA FALAR DAS COUSAS DO ALTO,
CADASTREM-SE

EZEQUIEL NEVES
ADMN

Participe do fórum, é rápido e fácil

AMADOS E AMADAS
PARA FALAR DAS COUSAS DO ALTO,
CADASTREM-SE

EZEQUIEL NEVES
ADMN

 

 

O EVANGELHO DE PEDRO

(Continuação)

 

 

XXX. Um Futuro Apóstolo

 

Uma outra mulher da mesma cidade tinha dois filhos, os dois doentes. Um morreu e o outro estava agonizando. Sua mãe tomou-o nos braços e levou-o até Maria.

 

Aos prantos, disse-lhe:

 

    Minha senhora, vem em meu auxílio e tem piedade de mim. Eu tinha dois filhos, acabo de perder um e vejo o outro a ponto de morrer. Imploro a misericórdia do Senhor.

 

E pôs-se a gritar:

 

    Senhor, tu és pleno em clemência e compaixão! Tu me deste dois filhos, me levaste um deles, pelo menos deixa-me o outro.

 

Maria, testemunha da sua extrema dor, sentiu pena e disse-lhe:

 

    Coloca teu filho na cama de meu filho e cobre-o com suas roupas.

 

Quando a criança foi colocada na cama, ao lado de Jesus, seus olhos já cerrados pela morte abriram-se e, chamando sua mãe em voz alta, pediu-lhe pão. Quando lhe deram, comeu-o.

 

Então sua mãe disse:

 

    Maria, eu sei que a virtude de Deus habita em ti, a ponto de teu filho curar as crianças que o tocam.

 

A criança que assim foi curada é o mesmo Bartolomeu de quem se fala no Evangelho.

 

XXXI. Uma Leprosa

 

Havia ainda no mesmo lugar uma leprosa que foi ter com Maria, mãe de Jesus, dizendo-lhe:

 

    Minha senhora, tem piedade de mim.

 

Maria quis saber:

 

    Que ajuda pedes tu? Queres ouro, prata ou queres te curar da lepra?

 

A mulher respondeu:

 

    Que podes fazer por mim?

 

Maria disse:

 

    Espera um pouco, até que eu tenha banhado e posto meu filho na cama.

 

A mulher esperou e Maria, após o haver deitado, estendeu à mulher um vaso cheio de água do banho do seu filho e disse-lhe:

 

    Pega um pouco desta água e espalha-a sobre o teu corpo.

 

Assim que a doente obedeceu, curou-se e ela rendeu graças a Deus.

 

XXXII. Outra Leprosa

 

Ela partiu em seguida, após haver permanecido três dias junto de Maria, e foi para uma cidade onde morava um príncipe, que havia desposado a filha de um outro príncipe. Quando ele viu sua esposa, porém, percebeu entre seus olhos as marcas da lepra sob a forma de uma estrela e o seu casamento foi declarado nulo e não válido.

 

Essa mulher, vendo o desespero da princesa, perguntou-lhe a causa dessas lágrimas.

 

A princesa respondeu-lhe:

 

    Não me interrogues, pois a minha desgraça é tanta que eu não posso revelá-la a ninguém.

 

A mulher insistia em saber, dizendo que talvez conhecesse algum remédio.

 

Ela viu então as marcas da lepra entre os olhos da princesa.

 

    Eu também fui atingida por essa doença. Fui a Belém para tratar de negócios e lá entrei numa caverna onde vi uma mulher chamada Maria. Ela carregava uma criança que se chamava Jesus. Vendo-me atingida pela lepra, ela teve pena de mim e me deu um pouco da água na qual havia lavado o corpo de seu filho. Eu espalhei essa água sobre meu corpo e fui imediatamente curada.

 

A princesa disse-lhe então:

 

    Levanta-te, vem comigo e mostra-me Maria.

 

Ela foi, levando ricos presentes. Quando Maria a viu, disse:

 

    Que a misericórdia do Senhor Jesus esteja sobre ti.

 

Ela lhe deu um pouco da água na qual havia lavado seu filho. Assim que a princesa espalhou-a sobre o próprio corpo, ela se viu curada e rendeu graças ao Senhor, assim como todos os que ali estavam. O príncipe, ao saber que sua esposa havia sido curada, recebeu-a, celebrou um segundo casamento, e rendeu graças a Deus.

 

XXXIII. Uma Jovem Endemoninhada

 

Havia, no mesmo lugar, uma jovem que Satã atormentava. O espírito maldito aparecia-lhe sob a forma de um dragão, que queria devorá-la. Ele já havia sugado todo o sangue, de maneira que ela se parecia com um cadáver. Todas as vezes em que ele se jogava sobre ela, ela gritava e, juntando as mãos sobre a cabeça, dizia:

 

    Desgraça, desgraça de mim, pois não existe ninguém que possa livrar-me deste horrível dragão.

 

 Seu pai, sua mãe e todos aqueles que a cercavam, testemunhas de sua infelicidade, entregavam-se à aflição e derramavam lágrimas, principalmente quando a viam chorar e gritar:

 

    Irmãos e amigos, não existirá ninguém que possa libertar-me deste monstro?

 

A princesa, que havia sido curada da lepra, ouvindo a voz dessa infeliz, subiu até o telhado de seu castelo e viu-a com as mãos unidas acima da cabeça, a verter copiosas lágrimas. Todos aqueles que a rodeavam estavam desolados.

 

Ela perguntou se a mãe dessa possuída vivia ainda. Quando lhe responderam que o seu pai e sua mãe estavam ambos vivos, ela disse:

 

    Tragam sua mãe até mim.

 

Quando esta chegou, ela lhe perguntou:

 

    É tua filha que está assim possuída?

 

A mãe, tendo respondido que sim, chorou, mas a princesa disse-lhe:

 

    Não revela o que vou te contar. Eu já fui uma leprosa, mas Maria, a mãe de Jesus Cristo, me curou. Se queres que tua filha tenha a mesma felicidade, leva-a a Belém e implora com fé a ajuda de Maria. Eu creio que voltarás cheia de alegria, trazendo tua filha curada.

 

Imediatamente a mãe levantou-se e partiu. Foi procurar Maria e expôs-lhe o estado de sua filha. Maria, após tê-la ouvido, deu-lhe um pouco da água, na qual ela havia lavado seu filho Jesus, e disse-lhe para derramá-la sobre o corpo da possuída. Em seguida deu-lhe uma fralda do menino Jesus, acrescentando:

 

    Pega isto e mostra-o a teu inimigo, todas as vezes em que o vir.

 

Dizendo isso, despediu-as com suas bênçãos.

 

XXXIV. Outra Possessa

 

Após haver deixado Maria, elas retornaram à sua cidade. Quando veio o tempo no qual Satã costumava atormentá-la, ele lhe apareceu sob a forma de um grande dragão. Ao ver a sua aparência, a jovem foi tomada pelo pavor, mas sua mãe disse-lhe:

 

    Não temas, minha filha! Deixa que ele se aproxime mais de ti e mostre-lhe esta fralda que nos deu Maria e veremos o que ele poderá fazer.

 

Quando o espírito maligno, que havia tomado a forma de um dragão, estava bem perto, a doente, tremendo de medo, colocou sobre sua cabeça a fralda e desdobrou-a. De repente, dela saíram chamas que se dirigiam à cabeça e aos olhos do dragão. Ouviu-se, então, uma voz que gritava:

 

    Que há entre ti e mim, ó Jesus, filho de Maria? Onde encontrarei um abrigo que me livre de ti?

 

Satã fugiu apavorado, abandonando essa jovem e nunca mais apareceu. Ela se viu curada e, grata, rendeu graças a Deus, assim como todos os que haviam presenciado esse milagre.

 

XXXV. Judas Iscariotes

 

Havia nessa mesma cidade uma outra mulher cujo filho era atormentado por Satã. Ele se chamava Judas e sempre que o espírito maligno apoderava-se dele, ele tentava morder todos os que estavam à sua volta. Se estivesse sozinho, mordia suas próprias mãos e membros. A mãe desse infeliz, ouvindo falar de Maria e de seu filho Jesus, foi com seu filho nos braços até Maria.

 

Nesse meio tempo, Tiago e José haviam trazido o menino Jesus para fora da casa, para que pudesse brincar com as outras crianças. Eles estavam sentados fora da casa e Jesus com eles. Judas aproximou-se também e sentou-se à direita de Jesus e, quando Satã começou a agitá-lo como sempre o fazia, ele tentou morder Jesus. Como não podia alcançá-lo, dava-lhe socos no lado direito, de forma que Jesus começou a chorar. Nesse momento, entretanto, Satã saiu dessa criança sob a forma de um cão enraivecido.

 

Essa criança era Judas Iscariotes, que mais tarde trairia Jesus. O lado em que ele havia batido foi o lado que os judeus trespassaram com a lança.

 

XXXVI. AS Estatuazinhas de Barro

 

Quando o Senhor Jesus havia completado o seu sétimo ano, ele brincava um dia com outras crianças de sua idade. Para divertir-se, eles faziam com terra molhada diversas imagens de animais, de lobos, de asnos, de pássaros, cada um elogiando seu próprio trabalho e esforçando-se para que fosse melhor que o de seus companheiros. Então o Senhor Jesus disse para as crianças:

 

    Ordenarei às figuras que eu fiz que andem e elas andarão.

 

As crianças perguntaram-lhe se ele era o filho do Criador e o Senhor Jesus ordenou às imagens que andassem e elas imediatamente andaram. Quando ele mandava voltar, elas voltavam. Ele havia feito figuras de pássaros que voavam, quando ele ordenava que voassem, e que paravam, quando ele dizia para parar. Quando ele lhes dava bebida e comida, eles comiam e bebiam.

 

Quando as crianças foram embora e contaram aos seus pais o que haviam visto, eles disseram:

 

    Fugi, daqui em diante, de sua companhia, pois ele é um feiticeiro! Deixai de brincar com ele!

 

XXXVII. As Cores do Tintureiro

 

Certo dia, quando brincava e corria com outras crianças, o Senhor Jesus passou em frente à loja de um tintureiro, que se chamava Salém. Havia nessa loja tecidos que pertenciam a um grande número de habitantes da cidade e que Salém se preparava para tingir de várias cores. Tendo Jesus entrado na loja, pegou todas as fazendas e jogou-as na caldeira. Salém virou-se e, vendo todas as fazendas perdidas, pôs-se a gritar e a repreender Jesus, dizendo:

 

    Que fizeste tu, ó filho de Maria? Prejudicaste a mim e a meus cidadãos. Cada um pediu uma cor diferente e tu apareceste e puseste tudo a perder.

 

O Senhor Jesus respondeu:

 

    Qualquer fazenda que queiras mudar a cor, eu mudo.

 

Ele se pôs a retirar as fazendas da caldeira e cada uma estava tingida da cor que desejava o tintureiro. Os judeus, testemunhando esse milagre, celebraram o poder de Deus.

 

XXXVIII. Jesus na Carpintaria

 

José ia por toda a cidade, levando com ele o Senhor Jesus. Chamavam-no para que fizesse portas, arcas e catres e o Senhor Jesus estava sempre com ele. E sempre que a obra de José precisava ser mais comprida ou mais curta, mais larga ou mais estreita, o Senhor Jesus estendia a mão e ela ficava exatamente do jeito que queria José, de forma que ele não precisava retocar nada com sua própria mão, pois ele não era muito hábil no ofício de marceneiro.

 

XXXIX. Uma Encomenda do Rei

 

Um dia, o rei de Jerusalém mandou chamá-lo e disse:

 

    Eu quero, José, que me faças um trono segundo as dimensões do lugar onde costumo sentar-me.

 

José obedeceu e, pondo mãos à obra, passou dois anos no palácio para elaborar esse trono. Quando ele foi colocado no lugar onde deveria ficar, perceberam que de cada lado faltavam dois palmos à medida fixada.

Então o rei ficou bravo com José, que temendo a raiva do monarca, não conseguiu comer e deitou-se em jejum.

 

O Senhor perguntou-lhe qual era a causa do seu receio e ele respondeu:

 

    É que a obra na qual trabalhei durante dois anos está perdida.

 

O Senhor Jesus respondeu-lhe:

 

    Não tenhas medo e não percas a coragem. Pegue este lado do trono e eu o outro, para que possamos dar-lhe a medida exata.

 

José fez o que havia lhe pedido o Senhor Jesus e cada um puxou para um lado. O trono obedeceu e ficou exatamente com a dimensão desejada. Os assistentes, vendo esse milagre, ficaram estupefatos e deram graças a Deus.  Esse trono fora feito com uma madeira do tempo de Salomão, filho de Davi, e que era notável por seus nós, que representavam várias formas de figuras.

 

XL. Os Meninos

 

Num outro dia, o Senhor Jesus foi até a praça e vendo as crianças que se haviam reunido para brincar, juntou-se a elas. Essas, tendo-o visto, esconderam-se e o Senhor Jesus foi até uma casa e perguntou às mulheres que estavam à porta, onde as crianças haviam ido. Como elas responderam que não havia nenhuma delas na casa, o Senhor Jesus disse-lhes:

 

    Que vocês estão vendo sob este arco?

 

Elas responderam que eram carneiros com três anos de idade e o Senhor Jesus gritou:

 

    Saí, carneiros, e vinde em direção ao vosso pastor.

 

Imediatamente as crianças saíram, transformadas em carneiros, e saltavam ao seu redor. As mulheres, tendo visto isso, foram tomadas de pavor e adoraram o Senhor Jesus, dizendo:

 

    Jesus, filho de Maria, nosso Senhor, tu és verdadeiramente o bom Pastor de Israel. Tem piedade de tuas servas que estão em tua presença e que não duvidam, Senhor, que tu vieste para curar e não para perder.

 

O Senhor respondeu que as crianças de Israel estavam entre os povos como os Etíopes. As mulheres disseram:

 

    Senhor, conheces as coisas e nada escapa à tua infinita sabedoria. Pedimos e esperamos a tua misericórdia. Devolve a essas crianças sua antiga forma.

 

O Senhor Jesus disse, então:

 

    Vinde, crianças, para que possamos brincar.

 

Imediatamente, na presença das mulheres, os carneiros retomaram a aparência de crianças.

 

XLI. Jesus Rei

 

No mês do Adar, Jesus reuniu as crianças e colocou-se como o seu rei. Elas haviam estendido suas roupas no chão para fazê-lo sentar-se sobre elas e haviam colocado sobre sua cabeça uma coroa de flores. Como os satélites que acompanham um rei, elas se haviam enfileirado à sua direita e à sua esquerda. Se alguém passava por lá, as crianças faziam parar à força e diziam-lhe:

 

    Vem e adora o rei, para que obtenhas uma feliz viagem.

 

XLII. Simão, o Cananeu

 

Nisso chegaram alguns homens que carregavam uma criança em uma liteira. Esse menino havia ido até a montanha com seus colegas para apanhar lenha e, tendo encontrado um ninho de perdiz, pôs a mão para retirar os ovos. Uma serpente, escondida no ninho, no entanto, mordeu-o e ele chamou os companheiros para socorrê-lo.  Quando chegaram, eles o encontraram estendido no chão e quase morto. Alguns familiares vieram e levaram-no à cidade. Ao chegaram ao local onde o Senhor Jesus estava sentado em seu trono como um rei, com outras crianças à sua volta, como sua corte, essas foram ao encontro dos que carregavam o moribundo e disseram-lhes:

 

    Vinde e saudai o rei!

 

Como eles não queriam aproximar-se por causa da tristeza que sentiam, as crianças traziam-nas à força. Quando estavam na frente do Senhor Jesus, ele perguntou-lhe por que estavam carregando aquela criança.

Responderam que uma serpente a havia mordido e o Senhor Jesus disse às crianças:

 

    Vamos juntos e matemos a serpente!

 

Os pais da criança que estava prestes a morrer suplicaram para que os deixassem ficar, mas elas responderam:

 

    Não ouvistes que o rei disse vamos e matemos a serpente? Devemos seguir suas ordens.

 

Apesar da sua oposição, eles retornaram à montanha, carregando a liteira. Quando chegaram perto do ninho, o Senhor Jesus disse às crianças:

 

    Não é aqui que se esconde a serpente?

 

Eles responderam que sim e a serpente, chamada pelo Senhor Jesus, saiu e submeteu-se a ele. O Senhor disse-lhe:

 

    Vai e suga todo o veneno que espalhaste nas veias dessa criança.

 

A serpente, arrastando-se, sugou todo o veneno que ela havia inoculado e o Senhor, em seguida, amaldiçoou-a e, fulminada, morreu logo em seguida. Depois o Senhor Jesus tocou a criança com sua mão e ela foi curada. Como ela se pusesse a chorar, o Senhor Jesus disse-lhe:

 

    Não chores, serás meu discípulo!

 

Essa criança foi Simão de Cananéia, de quem se faz menção no Evangelho.

 

XLIII. Jesus e Tiago

 

Num outro dia, José havia mandado seu filho Tiago para apanhar lenha e o Senhor Jesus se havia juntado a ele para ajudá-lo. Quando chegaram ao lugar onde ficava a lenha, Tiago começou a apanhá-la e eis que uma víbora mordeu-o e ele se pôs a gritar e a chorar. O Senhor Jesus, vendo-o naquele estado, aproximou-se e soprou o local da mordida. Tiago foi imediatamente curado.

 

XLIV. O Menino que Caiu e Morreu

 

Um dia, o Senhor Jesus estava brincando com outras crianças em cima de um telhado e uma delas caiu e morreu na hora. As outras fugiram e o Senhor Jesus ficou sozinho em cima do telhado. Então os pais do morto chegaram e disseram ao Senhor Jesus:

 

    Foste tu que empurraste nosso filho do alto telhado.

 

Como ele negasse, eles repetiram mais alto:

 

    Nosso filho morreu e eis aqui quem o matou.

 

O Senhor Jesus respondeu:

 

    Não me acuseis de um crime do qual não tendes nenhuma prova. Perguntemos, porém, à própria criança o que aconteceu.

 

O Senhor Jesus desceu, colocou-se perto da cabeça do morto e disse-lhe em voz alta:

 

    Zeinon, Zeinon, quem foi que te empurrou do alto do telhado?

 

O morto respondeu:

 

    Senhor, não foste tu a causa da minha queda, mas foi o terror que me fez cair.

 

O Senhor recomendou aos presentes que prestassem atenção a essas palavras e todos eles louvaram a Deus por este milagre.

 

XLV. O Cântaro Quebrado

 

Maria havia mandado, um dia, o Senhor Jesus tirar água do poço. Quando ele havia cumprido a tarefa e colocava sobre a cabeça o cântaro cheio, ele partiu-se. O Senhor Jesus, tendo estendido o seu manto, levou para sua mãe a água recolhida e ela se admirou e guardou em seu coração tudo o que havia visto.

 

XLVI. Brincando com o Barro

 

Um dia, o Senhor Jesus estava na beira do rio com outras crianças. Haviam cavado pequenas valas para fazer escorrer a água, formando assim pequenas poças. O Senhor Jesus havia feito doze passarinhos de barro e os havia colocado ao redor da água, três de cada lado. Era um dia de Sabbath e o filho de Hanon, o Judeu, veio e vendo-os assim entretidos, disse-lhes:

 

    Como podeis, em um dia de Sabbath, fazer figuras com lama?

 

Ele se pôs, então, a destruir tudo. Quando o Senhor Jesus estendeu as mãos sobre os pássaros que havia moldado, eles saíram voando e cantando. Em seguida, o filho de Hanon, o Judeu, aproximou-se da poça cavada por Jesus para destruí-la, mas a água desapareceu e o Senhor Jesus disse-lhe:

 

    Vê como está água secou? Assim será a tua vida.

 

E a criança secou.

 

XLVII. Uma Morte Repentina

 

Certa noite, o Senhor Jesus voltava para casa com José, quando uma criança passou correndo na sua frente e deu-lhe um golpe tão violente que o Senhor Jesus quase caiu. Ele disse a essa criança:

 

    Assim como tu me empurraste, cai e não levantes mais.

 

No mesmo instante, a criança caiu no chão e morreu.

 

XLVIII. Jesus e o Professor

 

Havia, em Jerusalém, um homem, chamado Zaqueu, que instruía os jovens. Ele disse a José:

 

    José, por que não me envias Jesus para que ele aprenda as letras?

 

José concordou e também Maria. Levaram, pois, a criança para o professor e assim que ele o viu, escreveu o alfabeto e pediu-lhe que pronunciasse Aleph. Quando ele o fez, pediu-lhe para dizer Beth. O Senhor Jesus disse-lhe:

 

    Dize-me primeiro o que significa Aleph e aí então eu pronunciarei Beth.

 

O professor preparava-se para chicoteá-lo, mas o Senhor Jesus pôs-se a explicar o significado das letras Aleph e Beth, quais as letras de linhas retas, quais as oblíquas, as que tinhas desenho duplo, as que tinham pontos, aquelas que não tinham e porque tal letra vinha antes da outra, enfim, ele disse muitas coisas que o professor jamais ouvira e que não havia lido em livro algum.

 

O Senhor Jesus disse ao professor:

 

    Presta atenção ao que vou te dizer!

 

E pôs-se a recitar clara e distintamente Aleph, Beth, Ghimel, Daleth, até o fim do alfabeto. O mestre ficou admirado e disse:

 

    Creio que esta criança nasceu antes de Noé.

 

Virando-se para José, acrescentou:

 

    Tu o conduziste para que eu o instruísse, mas esta criança sabe mais que todos os doutores.

 

Depois disse a Maria:

 

— Teu filho não precisa de ensinamentos.

 

XLIX. O Professor Castigado

 

Conduziram-no, em seguida, a um professor mais sábio e assim que o viu. ordenou:

 

    Dize Aleph!

 

Quando o Senhor Jesus disse Aleph, o professor pediu-lhe que pronunciasse Beth. O Senhor Jesus respondeu-lhe:

 

    Dize-me o que significa a letra Aleph e então eu pronunciarei Beth.

 

O mestre, irritado, levantou a mão para bater nele, mas sua mão secou instantaneamente e ele morreu. Então José disse a Maria:

 

    Daqui por diante, não devemos mais deixar o menino sair de casa, pois qualquer um que se oponha a ele é fulminado pela morte.

 

L. Jesus, o Mestre

 

Quando contava doze anos de idade, levaram Jesus a Jerusalém por ocasião da festa e, quando ele terminou, eles voltaram, mas o Senhor Jesus permaneceu no templo, em meio aos doutores, aos velhos e aos mais sábios dos filhos de Israel, que ele interrogava sobre diferentes pontos da ciência, mas também respondia-lhes as perguntas.

 

Jesus perguntou-lhes:

 

    De quem é filho o Messias?

 

Eles responderam:

 

    Este é o filho de Davi.

 

Jesus respondeu:

 

    Por que então Davi, movido pelo Espírito Santo, chama-o Senhor, quando diz que o Senhor disse ao meu Senhor: "Senta-te à minha direita para que coloque teus inimigos aos teus pés ?"

 

Um importante rabino interrogou-o, dizendo:

 

    Leste os livros sagrados?

 

O Senhor Jesus respondeu:

 

    Eu li os livros e o que eles contêm.

 

Dito isso, explicou-lhes as Escrituras, a lei, os preceitos, os estatutos, os mistérios que estão contidos nos livros das profecias e que a inteligência de nenhuma criatura pode compreender. E o principal entre os doutores disse:

 

    Eu jamais vi ou ouvi tamanha instrução. Quem credes que seja essa criança?

 

LI. Jesus e o Astrônomo

 

Havia lá um filósofo, astrônomo sábio, que perguntou ao Senhor Jesus se ele havia estudado a ciência dos astros. Jesus, respondendo-lhe, expôs o número de esferas e de corpos celestes, sua natureza e sua oposição, seu aspecto trinário, quaternário e sêxtil, sua progressão e seu movimento de leste para oeste, o cômputo e o prognóstico e outras coisas que a razão de nenhum homem escrutou.

 

LII. Jesus e o Médico

 

Havia entre eles um filósofo muito sábio em medicina e ciências naturais e quando ele perguntou ao Senhor Jesus se ele havia estudado a medicina, este expôs-lhe a física, a metafísica, a hiperfísica e a hipofísica, as virtudes do corpo, os humores e seus efeitos, o número de membros e de ossos, de secreções, de artérias e de nervos, as temperaturas, calor e seco, frio e úmido e quais as suas influências, quais as atuações da alma no corpo, suas sensações e suas virtudes, a faculdade da palavra, da raiva, do desejo, sua composição e dissolução e outras coisas que a inteligência de nenhuma criatura jamais alcançou. Então o filósofo ergueu-se e adorou o Senhor Jesus, dizendo:

 

    Senhor, daqui em diante serei teu discípulo e ter servo.

 

LIII. Jesus É Encontrado

 

Enquanto Jesus assim falava, Maria apareceu, junto com José, pois fazia três dias que procuravam por Jesus. Vendo-o sentado entre os doutores, interrogando-os e respondendo-lhe alternadamente, ela lhe disse:

 

    Meu filho, por que agiste assim conosco? Teu pai e eu te procuramos e tua ausência causou-nos muita aflição.

 

Ele respondeu:

 

    Por que me procuráveis? Não sabíeis que convinha que eu permanecesse na casa de meu Pai?

 

Eles não entendiam as palavras que ele lhes dirigia. Então os doutores perguntaram a Maria se ele era seu filho e tendo ela respondido que sim, eles exclamaram:

 

    Ó feliz Maria, que deste à luz tal criança.

 

Ele voltou com os pais para Nazaré e ele lhes era submisso em tudo. Sua mãe conservava todas as suas palavras em seu coração e o Senhor Jesus crescia em tamanho, em sabedoria e em graça diante de Deus e diante dos homens.

 

LIV. Via Oculta

 

Ele começou desde esse dia a esconder os seus segredos e seus mistérios, até que completou trinta anos, quando seu Pai, revelando publicamente sua missão às margens do Jordão, fez soar, do alto do céu, essas palavras:

 

    É meu filho bem-amado no qual coloquei toda minha complacência.

 

Foi quando o Espírito Santo apareceu sob a forma de uma pomba branca.

 

LV. Doxologia

 

É a ele que humildemente adoramos, pois ele nos deu a existência e a vida. Ele nos fez sair das entranhas de nossas mães, tomou, por nós, o corpo de homem e nos redimiu, cobrindo-nos com sua misericórdia eterna e concedendo-nos a graça do seu amor e de sua bondade.

 

A ele, portanto, glória, poder, louvores e domínio por todos os séculos.

 

Que assim seja!